Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

3 anos

Meus filhos, três anos passaram num ápice. Ontem batalhavam para sobreviver na neonatologia do hospital, hoje partem-nos a cabeça com a vossa vivacidade. Três anos desde que a nossa família foi consideravelmente aumentada e se me perguntarem como era antes já nem me lembro. De vez em quando vejo fotos antes de nascerem e não me consigo identificar com aquelas pessoas. Mudámos tanto, por vocês, graças a vocês, para vocês. Não vos mentir e dizer que não éramos felizes porque éramos mas desde que vocês chegaram atingimos um novo patamar de felicidade ( e de dores de cabeça também).

Hoje olho para vocês e vejo uns rapazes lindos e sacanas. Olho e penso que já não há bebes cá em casa. Fico contente e triste ao mesmo tempo. Já sinto saudades da época em que vos tinha que dar o biberão à boca. Hoje em dia vejo-vos ganhar autonomia, cada vez mais querem fazer as coisas sozinhos e vão deixando de precisar de mim um pouco de cada vez. Adoro e odeio a forma como querem entrar sair sozinhos no carro. A forma como já sabem tirar o sinto de segurança sozinhos. A forma como se querem esfregar sozinhos no banho. Adoro e odeio o facto de se querem tentar vestir e calçar sem mim.

No entanto há uma coisa que adoro nesta nova fase que é o facto de já falarem tão bem. Adoro mais do que tudo quando me dizem que gostam de mim e me cobrem com beijinhos. Adoro também a forma como a cumplicidade de irmãos cresce a olhos vistos, não só entre vocês os dois mas também entre os quatro. Adoro ouvir os passos dos quatro a correr pela casa, os risos dos quatro resultantes das brincadeiras e até a birra dos quatro quando se zangam.

Não há sombra de duvidas que vocês vieram dar uma nova vida à nossa família. As vossas personalidades tão marcadas e tão diferentes. O vosso olhar safado e desafiador. O vosso lado meigo que nos faz esquecer tudo.

Três anos passaram e nem tudo foi fácil. Vocês foram protagonistas de muitos sustos. Tivemos muitas dores de cabeça graças a vocês. Discutimos, gritámos. Sentimos que íamos endoidecer. Tenho a certeza que nada disto ficou por aqui e que ainda vamos passar muito com todos vocês até ao fim da nossa vida, porque ser pai é mesmo isto. No entanto também sei que os bons momentos se sobrepõem aos maus e que são estes que nos ficam na memória. Por isso vamos continuar a criar muito bons momentos, um bocadinho de cada vez.

 

Insólitos no Jardim Zoológico

- Olha Santiago um hipopótamo.

- Boo, cheira mal. 

 

- Salvador já viste os leões.

- Sim, cheira mal.

 

- Meninos estão ali os rinocerontes. Já viram aquele na água, vai sair de lá dentro.

- Mãe o que é aquilo? Ele está a fazer cocó para dentro da água?- Pergunta o Leonardo

- Sim está filho.

- Que nojo! Agora a água está podre.

 

- Esta é a zona da quinta. Estão ali póneis vamos ver.

- Cheira muito mal. O que é aquela coisa castanha ali no chão? - quer saber o Guilherme

-O Pónei deve estar de diarreia!- responde um rapaz que estava ao lado

 

- Estão a gostar de andar no teleférico.

- Sim!

- Agora vamos passar por cima dos leões.

O Leonardo deita a mão ao boné e diz:

- Meu querido chapéu agora não podes cair se não eles dão cabo de ti.

- Pronto já passamos os leões agora é só passar os rinocerontes e chegamos ao fim.

- Meu deus! Aquela água está toda suja!

- Pois está mesmo castanha e cheira muito mal!

- Só espero não cair lá dentro.

- Estamos quase a passar. Já estamos quase a chegar. Ufa, estamos safos!

 

Resumindo e concluindo os rapazes saíram a pensar que todos os animais são porcos e mal cheirosos. Todos excepto os golfinhos

A mãe não tem sorte nenhuma

A mãe está cansada e gostava de descansar. A mãe passou os últimos dois meses a limpar e arrumar casas, uma para deixar outra para viver A mãe limpou tinta. A mãe limpou calcário. A mãe limpou porcaria até mais não, a mãe até limpou coisas que nem conseguia saber o que eram (provavelmente melhor assim). A mãe viu as duas semanas de férias encurtadas por razões laborais. Agora finalmente a mãe está de férias e a única coisa que queria era dormir mais um pouco de manhã. Será que é pedir muito? 

Parece que talvez seja um pedido demasiado ambicioso. A mãe acordou hoje às 6 horas da manhã com o robot a aspirar a casa e teve que fazer uma corrida até ao piso de baixo antes que o barulho acordasse a casa toda.

A mãe pensou que gosta muito do robótica mas se ele aspira mais vezes a esta hora vai ficar de castigo.

Nunca estamos prontos para dizer adeus

Na segunda-feira fomos à escola dos mais velhos tratar da transferência para a nova escola. Primeiro fomos tratar da do Leonardo com a professora dele. Durante o tempo que tivemos  na sala a professora fartou-se de dizer que ia ter saudades do rapaz. Seguiram-se muitos beijos e abraços entre os dois e as lágrimas subiram-me aos olhos.

De seguida fomos à sala do Guilherme tratar de toda a papelada. Mais uma vez a professora disse ao rapaz que ia ter saudades dele. Recomendou-lhe que continuasse a ser o doce de menino que têm sido até agora e que tivesse juízo para continuar com as boas notas. Notei na professora que estava a ser uma época difícil, acredito que não deva ser nada fácil deixar partir um monte de crianças as quais cuidamos durante anos e aprendemos a amar. No fim tive direito a um abraço que me partiu o coração. A professora agradeceu-me por tudo e eu repliquei que éramos nós que tínhamos a agradecer todo o trabalho que fez com o rapaz. Consegui sair da sala sem chorar embora as lágrimas teimassem em subir aos olhos.

No recreio da escola seguiu-se a despedida mais difícil. A auxiliar Filó agarrou-se aos dois e as lágrimas correram-me pela cara. Vi aquela mulher que tem um coração do tamanho do mundo, que cuida dos 66 alunos da escola como se fossem todos netos dela. Uma pessoa que lá esteve todos os dias para os receber de manhã e para lhes dizer adeus à tarde. Quer estivesse frio ou calor lá estava ela todos os dias sem falta. Uma pessoa que cuida dele no recreio, que os aconchega quando se magoam, que os ouve quando choram. É uma pessoa maravilhosa e com um jeito imenso para crianças. Num ano conseguiu fazer o Leonardo comer sopa quando muitos outros tinham tentado e falhado durante anos a fio. 

O abraço entre os três foi demorado e apertado. O Leonardo dizia que ia ter muitas saudades dela e ela desejava-lhe que encontrasse uma senhora como ela na nova escola. Eu abri a boca e disse que uma Filó como ela não existia e lado nenhum mas fui traída pela minha voz que me saiu trémula e sentida. Afastamos-nos então para evitar prolongar o momento. Afastamos-nos na esperança que a tristeza ficasse para trás, em parte como fazemos com o penso rápido que arrancamos de uma vez para não doer mais. A verdade é que não resultou e ainda hoje penso como tivemos sorte em nos termos cruzado com estas pessoas na nossa vida.

Nunca na vida vamos conseguir agradecer o suficiente pela forma como cuidaram dos nosso filhos. Ás vezes acho que cuidaram deles ainda melhor do que eu própria e isso faz crescer um receio sobre a escola nova. Será que os rapazes vão conseguir ser felizes depois de conhecerem um ambiente como conheceram? Será que se vão sentir seguros numa escola tão grande? Será que alguém os aparará se caírem?

Não sei como será o nosso futuro mas sei que as pessoas que deixamos  vão estar sempre na nossa vida. Certamente vamos fazer visitas e mesmo quando não estivermos juntos vamos recordar sempre. É caso para dizer que não é um adeus mas um até breve.

Pág. 3/3