Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.
Bem sei que o tempo está quente e que apetece comida leve. Mas nós como somos do contra continuamos a devorar assados. Adoro sentir a casa perfumada com o cheiro da carne ou do peixe a assar.
Quer seja um belo rolo de carne com arroz selvagem e legumes.
Quer seja entrecosto assado com arroz no forno, acompanhado por cenoura assada e salada. Para terminar aproveita-se o forno e faz-se bolos ou queques.
Já estou a pensar no que vou fazer este fim de semana.
Agora dão sumiço a tudo. Tão depressa estão com a chucha na boca como não sabem dela. Passamos horas de cabeça colada ao chão para espreitar debaixo dos móveis em busca dos objectos perdidos. Eles imitam-nos, espreitam debaixo dos móveis e depois dizem -nos que não está lá nada com ar de gozo. Por vezes acho que fazem de propósito só para não nos deixarem sossegar cinco minutos. Ontem roubaram-me os chinelos. Passei mais de uma hora à procura deles. Espreitei debaixo do sofá, atrás da porta, no quarto de brincar, no quarto onde dormem, no meu quarto, nas casa de banho e na cozinha. Acabei por desistir e andar o resto da noite descalça.
Hoje de manhã por pura coincidência dei com os ditos enfiados entre a mesa de apoio e o móvel. Estes rapazes dão-me conta do juízo.
Os gémeos têm se revelado uns autênticos monstros no que toca à fruta. Não passam sem ela e comem praticamente de tudo. Por norma a fruta tem que estar escondida e o seu nome só pode ser mencionado depois de acabarem de comer. Caso contrário rejeitam o comer em detrimento da fruta. Os mais velhos quando acabam de comer têm que esperar pelos pequenos porque caso contrário temos fita por causa da fruta. Acho que gostam praticamente de tudo. Adoram banana, maçã, morangos, cerejas, pêssegos, ameixas, nêsperas, abacaxi, manga, melão, melancia, meloa...
É engraçado ver que cada um tem as suas preferidas. O Santiago adora meloa enquanto que o Salvador dispensa. O Salvador adora pêssegos e ameixas já o Santiago come mas não gosta da casca. Aos poucos vão percebendo o que preferem e fazem questão de nos mostras os seus gostos.
Eu adoro vê-los comer assim mas não posso deixar de me lamentar porque a fruta desaparece a um ritmo alucinante. Passo a vida a comprar mas nunca tenho nada em casa. Para terem uma ideia só os gémeos costumam comer duas peças de fruta a cada refeição. No outro dia comprei uma meloa bastante grande, tinha quase um quilo de peso, e o Santiago comeu-a toda depois do almoço. Acho muito bem que comam fruta porque é saudável e faz muito bem mas sinto que vou à falência. Será que posso plantar uma árvores na varanda? Assim ficava mais barato.
Estávamos cansados de ter quatro meninos, especialmente os gémeos a disputarem um só carro. Perdi a conta às vezes que os apanhei assim.
Resolvemos então comprar um segundo carro para evitar tantas chatices. Procuramos um exactamente igual de forma a evitar haver um preferido entre os rapazes. Claro que adoraram e não vivem sem os seus carros.
Passam o dia para a frente e para trás em cima deles. Quando chego a casa eles estão no quarto. Assim que me ouvem correm a montar-se nos carros e vêm a conduzir dar um beijinho à mãe.
A questão é os choques constantes e os carros mal estacionados em todo o lado. Ainda no outro dia chocaram os dois.
Saíram do acidente a chorar e lá ficaram os carros no meio do caminho a estorvar.
Outra coisa má são os atropelamentos constantes. Andam tão depressa que levam tudo o que lhes aparece à frente. Eu tremo de medo cada vez que os oiço aproximar de mim a alta velocidade. Digo-vos que é bastante doloroso quando um destes carros vos passa por cima de um pé. Sim já fui atropelada dentro de minha própria cada e não está certo.
Começo a questionar-me se fizemos bem ou não em comprar o segundo carro.
Aproveitamos o fim de semana para ir à praia e passarmos tempo em família. Os pequenos adoraram, brincaram muito os quatro todos juntos. A praia estava óptima, não estava muito cheia, a temperatura estava boa e a água estava quente. Acho que nunca tinha sentido a água tão quente aqui nesta zona.
Uma mãe de família têm que ter alguma animação na vida. Ontem provei um magnum de manteiga de amendoim e passei a tarde toda com a garganta esquisita. Parecia que a garganta estava apertada e não deixava passar o ar. Presumo que terá resultado do facto de ser alérgica ao amendoim.
Hoje foi um almoço no chinês. Bom? Claro que sim mas não para quem tem alergia à soja. Claro que com a minha cabeça de alho xoxo me esqueci dos comprimidos. Já disse as colegas para irem olhando para mim e gritarem caso me vejam a inchar. De qualquer forma não à crise, o hospital é mesmo aqui ao lado
A verdade é que estou exausta. Ainda não recuperei da escarlatina dos gémeos. Para além disso os pequenos têm andado loucos. Chega a hora de dormir e só querem brincar. Eu tenho que me zangar e dizer-lhe que é para dormir. Mesmo assim só consigo que adormeçam perto da meia noite. Depois o Santiago habituou-se a dormir comigo e tenho passado a semana toda a tentar deixa-lo sozinho na cama. Deito-me na minha cama e nem passado meia hora já está a chamar para mim. Volto para o pé dele e ando assim um pouco até que desisto e durmo o resto da noite na cama dele.
Como se não bastasse, todos os dias, de manhã, os pequenos acordam super animados a pensar que vão para a praia. Estou a vesti-los e eles a dizer:
-À praia, à água!
Ora trabalho ou praia? Lá venho eu de mau humor trabalhar e passo o dia a sonhar com a praia.
Certo dia conduzia eu o meu belo carro pela estrada fora. Seguia apressada para o trabalho. Lembro-me de ter ultrapassado alguns ciclistas, aliás eles andam ai aos montes. Entretanto, mais adiante o transito parou abruptamente. Eu parei também em segurança e fiquei à espera que a fila avança-se. Passados alguns minutos ouvi um estrondo e senti o carro estremecer. Olhei pelo espelho retrovisor mas o carro de trás continuava distante de mim. Olhei para o da frente e tínhamos uma distância entre nós. Olhei para o lado esquerdo e estava tudo ok. Olhei para o lado direito e vejo um ciclista a levantar-se.
Primeiro pensei que tinha atropelado o homem mas depois lembrei-me que estava imóvel naquele sitio há uma eternidade. Olhei para o senhor, este indicou o meu espelho que estava dobrado numa posição estranha. Felizmente não estava nada partido e pudemos ambos seguir viagem.
Contudo nunca me vou esquecer do dia em que fui abalroada por uma bicicleta
Fomos jantar com uns amigos. Vestimos os pequenos, apagamos tudo e saímos. Na garagem percebi que não tinha levado casaco pelo que voltei a casa para o buscar. Entrei, fui directa ao quarto onde peguei no casaco e sai deixando tudo às escuras.
Jantamos nas calmas e depois ainda fomos para casa dos colegas, onde estivemos mais um pouco na conversa. Voltamos depois para casa já perto da meia noite. Chegamos à porta de casa e ouvimos ruído. Primeiro pensamos que seria de casa do vizinho mas logo percebemos que não. Abrimos a porta e vimos claridade para além de barulho. Entramos apressados para ver o que se passava. Encontramos a televisão do quarto ligada em altos berros.
Como? Não faço ideia. Mas fiquei bastante preocupada com o assunto. Dei por mim a imaginar aquelas senas dos filmes de terror em que as personagens saem da televisão para a vida real. Sim eu sei que tenho uma imaginação muito fértil.
Mas a verdade é que, ou temos fantasmas em casa, ou a televisão têm vida própria. O que acham?