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Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

São dias como este que me vão deixar louca

Ontem foi um dia difícil. Começou com birras do gémeos porque não queriam ir à escola. Continuou numa correria até ao trabalho e eu completamente gelada.

Entretanto tive que sair para buscar uma cliente. Tive a manhã com ela para tentar instalar um computador de trabalho mas sem sucesso. Acabamos por desistir, saímos para almoço e para aquecer um pouco. Enquanto almoçava ligaram-me da creche a dizer que o Santiago tinha caído e iam ao hospital fazer um rx.  Deixei a cliente na estação e corri a saber do rapaz. Felizmente não tinha nada partido mas tive que lidar com outra birra. Acabou por ficar a chorar na escola mas não pudia mesmo ficar comigo. Voltei ao trabalho onde tentei colocar as coisas mais ou menos em ordem e onde gelei outra vez.

Saí novamente para a reunião do Guilherme. No fim da reunião o meu filho vêm ter comigo. Assim que olho para ele vejo que tem um olho todo negro e inchado. Pensei que se tinha envolvido numa luta mas afinal levou uma cotovelada a jogar basquetebol.

 O meu coração não aguenta tanta coisa. 

Sinto que sou mãe em part time

O despertador tocou e eu senti um corpo ao pé do meu. Sonolenta equacionei se o marido teria adormecido. Contudo depressa percebi que a perna que estava em cima de mim era demasiado pequena. Pensei se seria o Guilherme ou o Leonardo, não têm por hábito ir para a minha cama mas o corpo era demasiado grande para ser um dos gémeos. Devagar voltei-me para ver e foi com surpresa que percebi que era o Salvador. Fiquei ali uns minutos a olhar para ele e a pensar como é que estava tão grande. Parece que ainda ontem era um ser que me cabia entre o pulso e o cotovelo, hoje já quase que me chega ao peito. Cada vez mais sinto que o tempo acelera sem fim e por muito que corra nunca o consigo acompanhar. Cada vez mais tenho a sensação que sou uma mãe em parte time tão pouco é o tempo que tenho com eles. Sei que existem pessoas com ainda menos tempo mas o que tenho não me parece suficiente.

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Profissão Mãe

Mãe é cozinheira profissional porque faz os melhores cozinhados do mundo.

Mãe é empregada a dias, passa o tempo todo a limpar.

Mãe é costureira quando tenta remendar a roupa que os pequenos rompem.

Mãe é lavadeira e engomadeira de tanta roupa que lava e passa.

Mãe é professora, passa horas a ensinar os filhos.

Mãe é médica e enfermeira todas as vezes que trata os filhos doentes.

Mãe é policia quando impõe a autoridade.

Mãe é, muitas vezes, juíza quando tem que aplicar castigos.

Também é detective quando investiga quem é o autor do crime.

Mãe é guarda prisional quando garante que os castigos pesados são rigorosamente cumpridos.

Mãe vira bombeira quando vê que um filho corre perigo.

Mãe é canalizadora cada vez que os filhos colocam coisas estranhas na sanita e esta acaba entupida.

Mãe também gere um serviço pessoal de Uber. Passa o dia a levar e colocar crianças na escola, actividades, explicações, festas, desporto, etc.

Mãe é psicóloga quando ouve as confidencias dos filhos e faz o melhor para os ajudar a resolver as situações.

Mãe vira vendedora quando tenta convencer os filhos a comer mais fruta e vegetais.

Mãe é operadora logística, todos os dias gere as necessidade e horários de uma casa cheia.

Mãe é magica quando faz aparecer, milagrosamente, objectos que todos julgavam perdidos.

Mãe é mediadora quando resolve os conflitos dos pequenos.

Mãe é decoradora quando prepara as festas.

É pasteleira quando faz bolos e doces para as reuniões de família.

Mãe vira artista quando faz todos os projectos pedidos pelas escolas dos pequenos.

Mãe é advogada quando defende os seus filhos.

Mãe é tudo isto e muito mais.

Revejo-me nos meus filhos e vejo em mim os meus pais

Não sei ao certo quando é que isto aconteceu. Não consigo precisar quando deixei de ser quem era mas a verdade é que deixei. Noto isso em pequenas frases que saem da minha boca mas que eu nunca pensei que as iria proferir.

No fundo falamos de coisas básicas que nunca esperei que me afetassem tanto. Quando era miúda adorava ler. Claro que ainda gosto mas não como em criança. Lembro-me que só não levava o livro para o banho de resto andava sempre comigo.  Lembro-me dos meus pais me ralharem quando davam comigo sentada à mesa a ler. Ouvia ralhetes sobre não se ler enquanto se come e eu odiava essas discussões. Nunca compreendi o porque dessa regras mas a verdade é que agora discuto exatamente o mesmo com os meus filhos. Dou com eles tão vidrados no livro que até se esquecem de comer, tenho que insistir para que parem de ler caso contrário horas depois ainda estariam com o prato de comer à frente.

No outro dia deixei o Leonardo na escola. Primeiro não saia do carro porque estava tão entretido que nem se apercebeu que tínhamos chegado. Lá acabou por sair e começou a subir a escadaria de acesso à escola enquanto lia ao mesmo tempo. Eu acabei por o chamar à atenção porque já o estava a ver a cair nas escadas por não estar atento ao que ia a fazer. Depois de o repreender vi-me, com uns anos a menos, a ler enquanto caminhava. Recordo-me de cair nas escadas do metro justamente por ir de cara colada nas páginas. Recordei isto tudo e pensei que era feliz assim. Se eu era feliz assim porque motivo hoje me faz confusão ver os meus filhos com os mesmos comportamentos? Na verdade não sei. Hoje olho para mim e vejo os meus pais. Repito frases que ouvi na minha infância. Tomo atitudes que vi os meus pais tomarem. Concordo com umas mas com outras não. Então porque motivo as pratico? Não consigo dizer porquê. Sei que não são métodos totalmente errados caso contrário nunca os aplicaria mas não me identifico com eles.

Vou tentar limpar a mente e deixar estas atitudes de parte. Vou tentar deixar os rapazes mais livres. Vou tentar deixá-los errar porque é assim que melhor se aprende. Se caírem e esmurrarem os joelhos paciência, só espero que seja por um bom livro.

Jurei que nunca ia ser uma mãe assim

Se me perguntassem há uns anos eu jurava que nunca ia ser uma mãe galinha. Não ia ser daquelas mães que não largam os filhos, que se preocupam com tudo e mais alguma coisa. Não, eu era e sou um espírito muito livre, sempre pensei que seria capaz de confiar no destino quando toca aos meus filhos.

Jurei que não seria daquelas mães que vão levar os miúdos à sala e têm sempre mil recados a dar. Daquelas mães cujos filhos entram todos contentes na sala e elas ficam à porta com um olhar de cachorrinho à espera de um ultimo aceno ou beijinho mandado pelo ar. Eu dizia à boca cheia que não ia ser daquelas mães que fica a ver os miúdos entrarem no autocarro, quando vão para passeios. Que procuram os seus filhos no meios dos outros todos e depois vão a correr ao lado do autocarro a acenar até este ganhar uma velocidade que não conseguem acompanhar.

Eu não ia ser daquelas que fica com o coração nas mãos cada vez que vão a um passeio. Que se preocupa o dia todo se eles estão bem e que só descansa quando os têm novamente debaixo das suas asas.

Sim eu disse e pensei muita coisa mas a verdade é que não podia estar mais errada.

A verdade é que eu transformei-me numa destas mães. Tenho sempre recados a dar à educadora, fico à espera que entrem no autocarro, aceno-lhes freneticamente enquanto se afastam, pergunto-me o dia todo se estarão bem. Compro-lhes demasiadas coisas que no fundo nem precisam, tenho dificuldade em dizer-lhes não. No fundo tornei-me em tudo o que não me queria tornar mas agora que aqui estou percebo que não é assim tão mau.

Percebo que o amor modifica-nos. O medo de perder aqueles que amamos aterroriza-nos. Mas isso apenas significa que somos capazes de amar e temos quem amar. Já não me importo de ser uma mãe galinha apenas peço para conseguir ter o discernimento para perceber onde devo parar, porque quero que cresçam com autonomia.