Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Quatro Reizinhos

Uma mãe obsessiva, um pai muito stressado e 4 filhotes. O mais velho hiperativo, o segundo com um feitio muito particular e dois bebes gemeos. Tanta cabeça debaixo do mesmo tecto não pode dar coisa boa.

No fim tudo volta ao mesmo

Depois de duas semanas sem incidentes o Guilherme voltou para casa sem casaco. Falei com ele para que o procurasse no dia seguinte.

No dia seguinte não só voltou a casa sem o casaco que tinha perdido como também regressou sem o que tinha levado nesse dia.

Ando à três dias a exigir que procure os casacos e volta sempre sem eles. A este ritmo não vamos ganhar para casacos.

Hoje disse-lhe que ia ficar sem televisão para sempre se não trouxer os ditos. Vamos lá ver se resulta.

Já sabem o que querem.

- Mãe tenho fome!

- Tens fome Santiago?

- Sim.

- Que queres comer?

- Quero Leão com leite.

Preparo o comer e coloco-lhe a taça à frente.

- Mãe quero água.

- Também queres um copo de água?

- Sim para aqui.- diz apontando para o local exacto da mesa onde quer que eu coloque o copo- E um guardanapo para aqui.- enquanto aponta para o outro sitio onde quer que coloque o papel.

Já sabem tão bem o que querem

Andamos cegos ou não queremos ver

Ontem quando fui buscar os pequenos à creche aconteceu-me uma coisa esquisita. A educadora chamou os meus meninos que vieram logo a correr para mim. O primeiro a sair foi o Salvador e quando se chegou a mim nem o reconheci. Olhei para ele e ia jurar que aquele não era o menino que eu tinha deixado na instituição de manhã. Vi um rapaz, pequeno é certo mas um rapaz. Vi uma cara que demonstra que já não é bebe. Vi um corpo que perdeu as formas arredondadas dos primeiros anos de vida. 

Chegou o Santiago e estava igualmente diferente, já com cara e corpo de rapaz. Por momentos apeteceu-me chorar, abraçar aqueles rapazes e chorar. Não por estarem a crescer mas sim porque eu nem me estava a aperceber que eles estão a crescer. Senti-me má mãe. A verdade é que senti isto com todos os meus filhos. Aprendi a custo que eles crescem rápido de mais e nós na correria que vivemos andamos cegos. Ás vezes penso se andamos cegos ou não queremos ver, se calhar é um pouco dos dois. Estamos tão preocupados com o dia a dia que nem nos apercebemos que eles mudam um pouquinho todos os dias. Também é verdade que é difícil perceber este crescimento todos os dias, que é mais fácil para quem só os vê de dez em quando. Mas a verdade é que eu como mãe não quero perder pitada e pelos visto estou a perder.

Ao fim de quatro já devia estar mentalizada que isto ia acontecer mas acontece que estou sempre a prometer que desta vez vais ser diferente. Prometo a mim mesmo que é desta que vou dar conta de tudo nem que seja que lhe cresceu mais um cabelo na cabeça e depois desiludo-me. Sei que eles vão continuar a crescer e que nem sempre vou perceber logo as mudanças. Assim é a nossa vida, assim temos que continuar. Eu cá continuo a pedir para o tempo passar mais devagar mas ele nunca me dá ouvidos.

Tenho que me habituar a esta vida no campo

Meia dúzia de dias de escola, o Guilherme liga-me e pergunta se pode ir de boleia com a mãe um colega para casa. Eu nem estava a perceber o que me estava a pedir. Ele explicou-me que uma das mães dum colega se ofereceu para o levar a casa. Eu fiquei sem saber o que dizer. Não conhecemos ninguém na zona, nem pais nem crianças. Fiquei surpresa por aquela senhora se oferecer assim tão prontamente sem nos conhecer. Por outro lado tive algum receio, afinal existe tanta maldade no mundo. Acabei por lhe perguntar se era mãe de um colega da sala dele. Ele disse-me que sim e informou o nome do menino. Eu pensei que não queria ofender a senhora que tão simpaticamente se ofereceu mas por outro lado não queria abusar da generosidade. Lembrei-me que vivemos numa zona diferente e que as coisas aqui funcionam de outra forma e acabei por dizer que sim.

Tenho mesmo que me habituar a este tipo de vida, em que todos nos dizem bom dia na rua, em que todos se conhecem uns aos outros.

A hora de dormir

Cá em casa sofremos de um mal que eu penso que assiste em grande parte das famílias. Os pequenos estão todos felizes e contentes a brincar ou a ver televisão. Nós chegamos, dizemos que está na hora de ir dormir e começa o drama.

Um tem fome, outro quer água. Um lembra-se que ainda não preparou a mochila para o dia seguinte enquanto o outro afirma que tem que ir à casa de banho. Um deles lembra-se que ainda não lavou os dentes e o outro que tem um recado da escola. Entretanto o outro ouve a palavra recado e diz que tenho que lhe examinar a cabeça e assinar um papel por causa de piolhos na escola. O pequeno fica com vontade de fazer cocó e demora uma eternidade na casa de banho. Os mais velhos lembram-se de me dizer que lhes tenho que comprar artigos como sapatilhas ou papel de manteiga para o dia seguinte. Os pequenos choram porque querem os pandas para dormir. Depois choram porque querem ir dar beijinho ao pai. Depois querem que conte histórias.

Por norma só sossegam quando me mostro zangada e digo que quero silêncio absoluto. Quando se calam adormecem quase imediatamente mas até sossegarem é dose. Confirmem-me lá se é mau geral ou não inventarem coisas para não irem dormir.

A inocência das crianças

- Meninos vamos sair de casa mas não quero correrias no quintal da frente.

- Porquê?

- Porque está um gatinho doente no nosso quintal e não quero que o assustem. Vamos sair com juízo, sossegados e entrar no carro. Vamos para a escola e a mãe vai arranjar alguém que venha ajudar o gatinho doente.

Claro que todos eles quiseram ver o gato mas não se aproximaram muito nem o assustaram. Estávamos já todos dentro do carro quando o Santiago pergunta:

- O gatinho está doente?

- Sim está. A mãe vai ver se encontra um médico para o gatinho.

- Não mãe! Vai dar um beijinho ao gatinho e ele fica bom.

 

Que todas as doenças se curasse com beijinhos. 

 

Abandonei o marido

Aconteceu à uns meses atrás mas ainda hoje o marido goza comigo e diz que o abandonei. Eu cansada de me defender vou deixar aqui a história para que não restem duvidas da minha inocência.

Estava uma noite quente de sábado. O marido tinha ido correr. Entrou em casa tomou banho e disse que não lhe apetecia jantar. Em vez disso tirou um gelado do frigorífico e foi sentar-se a comer no sofá. Eu sentei-me ao pé dele, cansada e quando dei por mim estava naquele dorme acorda. Lembro-me de o ouvir dizer que estava mal disposto e um pouco mais tarde acordei rodeada pelo pequenos todos e nada de marido.

Fui à procura dele e encontro-o de rastos na casa de banho. Todo ele suava. Tentava vomitar sem sucesso e nem se aguentava em pé. Sugeri sair dez minutos para comprar uma água das pedras mas ele disse-me logo para não o deixar sozinho. Fui buscar um pouco de azeite para ver se o ajudava a vomitava mas nem se atreveu a beber.

Perguntei-lhe então se tinha comido o quilo de gelado ao que afirmou que sim. O meu cérebro chamou-lhe todos os nomes e mais alguns. Fiquei chateada porque estava assim por culpa dele mas depressa percebi já estava a levar uma lição de vida. Ele estava cada vez pior. Eu estava sozinha com os miúdos e ele. Estávamos numa zona nova onde quase não conhecemos os vizinhos. Os meus pais tinham ido passar o fim de semana fora. Os meus sogros não têm carro e eu decidi não chatear mais ninguém da família. Liguei para a saúde 24 que depois de falar comigo e com o marido nos instruiu que fossemos à urgência.

Consegui arranjar o marido e arrasta-lo para o andar de baixo. Vou chamar os rapazes e deparo-me com o Leonardo a dormir no sofá. Tive que arranjar um novo plano. Deixei o Guilherme em casa com o Leonardo, expliquei-lhe que demoraria pouco tempo e que me ligasse se fosse preciso.

Cheguei à urgência inscrevi o marido que foi logo chamado à triagem. Invadimos a sala de triagem ele, eu e os dois pequenos. Expliquei à enfermeira que ele ia ficar na sala de espera sozinho porque tinha mais duas crianças em casa.

E assim foi. Deixei-o na sala de espera com um maço de guardanapos e uns trocos para me ligar do telefone fixo. Ele mal se aguentava em pé e por isso não arrisquei a deixar-lhe objectos de valor.

Votei para casa e coloquei os miúdos todos na cama afinal já passava da meia noite e estava tudo cansado. Os pequenos dormiram mas eu não conseguia sossegar. Sabia que devia estar no hospital com ele mas também sabia que não podia deixar os rapazes sozinhos embora tenha explicado ao Guilherme que teria que sair para buscar o marido. Fiquei à espera do telefonema dele que nunca mais chegava. Um pouco antes das três da manhã não aguentei mais, achei que já devia estar despachado e resolvi dar um salto ao hospital. Qual o meu espanto quando ao subir a rampa da urgência vejo o marido que estava a sair do edifício. Aparentemente tinha acabado de ter alta, ainda me tentou ligar mas o telefone não fez a chamada e ficou com o dinheiro.

Voltamos a casa e os pequenos estava sossegados a dormir, é o bom de se viver a cinco minutos do hospital.

Portanto aqui fica a história do dia em que eu não abandonei o marido apenas o deixei por umas horas.

P.S: depois disto passou o resto do ano quase sem comer gelados

Estou a criar uns galdérios

- Mãe.

- Chiou, dorme mais um pouco.- digo enquanto me deito ao pé dele

- Mas mãe já é um bom dia.

- Não ainda não. Dorme.

- Sim mãe. Olha já é um bom dia, a noite já foi embora.

- Está bem. Vamos levantar.

- Hoje à escola?

- Não hoje é domingo não à escola.

- Então onde vamos? Vamos passear?

- Hoje não.

- Não vamos à festa?

- Não. Hoje vamos ficar em casa a descansar que estamos muito cansados.

- Eu quero ir passear. Dar uma volta.

 

Estes pequenos só querem rua

Homens e o GPS

Dizem que as mulheres e o GPS não se relacionam muito bem mas a verdade é que os homens também não se dão muito bem com a engenhoca. Fomos visitar uns amigos e como estamos numa zona nova ficamos na duvida de qual o melhor caminho a seguir. Quando saímos de casa perguntei ao marido por onde iríamos e ele disse que ia ver o que o GPS lhe indicava. 

Começamos então a seguir as direcções que a máquina ditava. Meia hora mais tarde parecia que ainda tínhamos  dois terços da distância a percorrer e o marido começa:

- Mas quem é que me mandou a mim ligar esta coisa! Se tivéssemos ido pelo caminho que costumávamos fazer já tínhamos chegado.

Dois minutos depois:

- Mas ele está a mandar-me virar aqui? Mas assim estamos a andar para o sentido este e queremos é ir para este. Pode ser que haja um atalho vamos ver.

Um minuto depois:

- Eu não acredito na volta que esta maquina nos está a mandar dar. Se tivéssemos ido para o outro lado já lá estávamos. Porque é que eu me fio nestas coisas.

Um pouco depois:

- Não quero saber não vou mais para a frente. Vou virar já e ele que recalcule. Estou farto de andar de carro. Demoramos mais tempo a fazer setenta quilómetros que a chegar ao Algarve.

Chegamos a casa dos amigos cerca de hora e meia depois de termos saído de casa. Estava a contar à minha amiga a relação do meu marido com o GPS e ela explicou-me que o marido tinha a mesma relação com o deles. Fiquei a pensar que deve ser mal geral.

 

Pág. 1/4